Parlamentares receberam representante da OAB Pelotas
Na tarde da última terça-feira (28), a Casa Legislativa recebeu um encaminhamento do Projeto Museu do Percurso Negro com a Comissão de Combate a Desigualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil, representado pelo advogado Fábio Gonçalves. O encontro teve o objetivo de solicitar que a Casa Legislativa instaure um processo de apuração no Crime de Intolerância Racial ao caso do enforcamento do boneco preto no último sábado em Pelotas.
A denúncia decorreu de um boneco de pano preto que apareceu enforcado, vestindo uma camiseta, bermuda e boné -vestimentas que categorizam os traços do jovem negro que reside nas periferias- nas proximidades do trevo de acesso ao Capão do Leão, no final da avenida Duque de Caxias, bairro Fragata. A polícia após um boletim de ocorrência do advogado Fábio Gonçalves e por um representante da Comunidade Negra do município, investiga a identidade de quem possa ter participação no crime.
O presidente da Câmara de Vereadores, vereador César Brisolara (Cesinha- PSB), ressaltou sobre a importância de não deixar o crime passar impune e também o apoio do Poder Executivo da cidade no apuramento do caso. “No dia de hoje, nós nos deparamos com uma séria enxurrada de postagens e comentários sobre um fato que ocorreu no dia de ontem. E essa situação tem sim haver com o racismo porque é em um lugar de difícil acesso em que a periferia não está presente, um lugar onde pessoas negras e pobres, não têm acesso . Mas, mais do que isso, percebemos a nível mundial, tivemos a questão do Vinícius Júnior e também em outras cidades aqui do Rio Grande do Sul, que modo desoperante é sempre o mesmo. Recebemos aqui o doutor Fábio Gonçalves, que é advogado e historiador, que representante também da CIA, da Comissão de Igualdade Racial da Subsessão da OAB que fez o registro na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento ali, e vamos encaminhar agora para o cartório aqui da cidade de crimes raciais para fazer a investigação e conseguir acessar e saber quem é que fez isso. Porque há de se entender que, principalmente hoje, que estamos em mundo muito conectado com esses adventos novos, é o primeiro passo para futuramente termos pessoas negras enforcadas nessa município.” Concluiu o vereador.
Já o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, vereador Michel Promove (PP), salienta sobre os encaminhamentos para responsabilizar os envolvidos pelo crime cometido. Ele enfatiza.”É um absurdo, na cidade mais negra do Estado, ainda no mês da consciência negra, naturalizarmos um ato de ódio. O presidente da Comissão de Igualdade Racial, Fábio Gonçalves, já fez os encaminhamentos que vai ser lida aqui na Casa, vai ser formalizada e registrada aqui, e vamos dar os devidos encaminhamentos até mesmo para responsabilizar essas pessoas, para que não haja naturalização desse crime. E o boneco tinha algumas características específicas: boné, tênis e abrigo, como o ex -vereador Matoso colocou bem, sendo o retrato social do jovem negro de periferia.” Finalizou o parlamentar.
O primeiro-secretário da Câmara Municipal, vereador Paulo Coitinho (CIDADANIA) realça sobre a importância do crime ser tratado com seriedade e responsabilidade. “Recebi com muita tristeza essa denúncia trazida pelo doutor Fábio, representante do AOB de Pelotas. Parece que não estamos em 2023. O racismo é muito claro e evidente, principalmente pelas fotos que recebemos deste crime. Atualmente presenciamos diversos registros de crimes raciais, éticos e religiosos e vamos tratar esse ocorrido com muita seriedade, porque esse tipo de crime não pode passar impune.” Comentou o edil.
Já o representante da Comissão de Igualdade Racial da Subsessão da OAB, o advogado Fábio Gonçalves reforça sobre a relevância no o caso que reflete na vida de negros e negras. Ele acentua.“Para muito além da Ordem dos Advogados, a comunidade negra em Pelotas, através do seu Conselho Civil, o esforço unido com a Câmara de Vereadores está estarrecida. E, oportunamente, traz essa denúncia, que tem que ser pública, sobre essa manifestação de ódio que tiveram a coragem de tecer aqui num dos trevos de acesso a Pelotas. A naturalização do racismo e destas manifestações é extremamente gravosa. Se a Polícia Judiciária efetivamente não buscar os responsáveis, vai se passar a ideia de que qualquer coisa pode acontecer aqui no que diz respeito a essas manifestações odiosas, que restará impune, e não é isso que nós buscamos. Muito antes, é o contrário. Estamos muito atentos para que esse crime não fique impune, para que as pessoas compreendam que as manifestações odiosas, mais dia, menos dia, chegam à porta de cada um de nós, se nós não tomarmos as previdências para que elas sejam devidamente freadas e responsabilizadas, aliás, para além disso, criminalizadas.” Enfatizou o advogado Fábio Gonçalves.